Por Milena Antunes
De Mogi das Cruzes
Foram quase sete meses de
competição. Quinze equipes em busca do título do Novo Basquete Brasil (NBB),
mas apenas duas delas ainda têm a chance brigar pelo caneco sábado (02), às
10h00, no Ginásio Municipal “Professor Hugo Ramos”, em Mogi das Cruzes. O São
José/Unimed/Vinca, estreante em decisões, tenta acabar com a hegemonia do
Uniceub/BRB/Brasília, que busca o tricampeonato consecutivo. Dessa vez, o clima
é diferente. Ao contrário das edições anteriores, o campeão sairá de jogo único, sem chance para erros.
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Frente a frente: Murilo e Alex são indicados a melhor jogador da temporada |
São José e Brasília
formam uma final inédita e curiosa. Para a equipe do Vale do Paraíba, essa é a
primeira decisão de NBB. Do outro lado, os brasilienses estão na quarta disputa
de título em quatro edições da competição, e são os atuais bicampeões. É o experiente
contra o iniciante. Por esse contexto, muitos poderiam indicar o Brasília como
favorito ao título, mas o histórico, dessa vez, só faz diferença mesmo no
papel. Na prática, é São José quem aparece em primeiro na lista de apostas. A
equipe fez melhor campanha até aqui: tem um conjunto que funciona muito bem, e
impressiona nas estatísticas individuais. O fato de jogar diante de sua torcida
– mesmo que em Mogi – também ajuda. Como mandante, o time de Régis Marrelli só
perdeu uma em 20 partidas. Brasília é um visitante de bom desempenho - perdeu 7
em 18 jogos. Ainda sim, a torcida joseense – que se somará a mogiana – é muito
forte, e deve fazer a diferença. Afinal, é uma decisão, e todas as motivações
psicológicas – para o bem e para o mal – influenciam no clima do jogo.
Na
história do NBB, os dois finalistas já se enfrentaram oito vezes, sempre em
fases de classificação. Até a última temporada, Brasília tinha ampla vantagem.
Estava invicta no confronto com seis vitórias. Neste último ciclo, o domínio é
de São José, que venceu duas vezes – em casa, de forma tranquila, por 87 a 78, e fora, numa partida em que Brasília tirou 12
pontos de diferença, e foi derrotado apenas na prorrogação, por 83 a 82.
Histórico na temporada 2011/12
26/01 - Brasília 82 x 83 São José
13/12 - São José 87 x
78 Brasília
Estreante,
mas impecável (São José)
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Fúlvio e Murilo são os destaques do São José |
São José vive um momento especial no NBB. Líder na
primeira fase, a equipe manteve o ritmo nos playoffs. O técnico Régis Marreli
sempre faz questão de ressaltar que o conjunto é o ponto mais forte deste time.
É verdade. O reflexo disso está nas estatísticas do campeonato. O time do Vale
do Paraíba é o dono do melhor ataque, com média de 92,8 pontos por jogo, sendo
líder no aproveitamento de 3 pontos, 40,9%, e de 2 pontos, 60,0%. É também a
equipe que mais distribui assistências, 17,8, e tocos, 3,2. Individualmente, é
difícil encontrar um fundamento onde São José não tenha ao menos um
representante entre os cinco melhores. Esse é mais um fator que comprova a
força do grupo. Não se engane... No esporte, às vezes os números indicam um
contexto que não se comprova na prática, mas no caso de São José, os dados
traduzem exatamente o que é a equipe: equilíbrio entre defesa e ataque,
objetividade na hora de definir, e excelência de conjunto.
Além de tudo isso, o time ainda conta com a fase brilhante
de dois jogadores. O armador Fúlvio, e o pivô Murilo já se conhecem de longa
data. Jogaram juntos em Mogi das Cruzes, no início dos anos 2000, e formam
agora, em São José,
uma dupla afiada. Nos playoffs, o armador soma 15,0 pontos por jogo e
lidera nas assistências, com 7,9. Já o pivô é o cestinha com 22,6 pontos
anotados por jogo, além de coletar 8,5 rebotes e distribuir 1,3 tocos.
Murilo é tido, quase pela unanimidade, como o melhor
jogador desta temporada do NBB. Ele já foi o MVP no Jogo das Estrelas, e é
forte candidato a levar o prêmio no total do campeonato. Nas estatísticas
gerais, ele é líder de 5 entre 9 fundamentos. O que poucos sabem, porém, é que
o queridinho do time de São José joga no sacrifício já há algum tempo.
Lesionado, ele não participa dos treinos, apenas joga. Mesmo assim é nítido que
tem feito muito bem a parte dele.
Campanha
Fase de classificação: 23
vitórias e 5 derrotas (1º colocado)
Quartas de Final: 3 a 0 contra Franca
Semifinal: 3 a 2 contra o Flamengo
O “papa” finais (Brasília)
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Brasília é o atual bicampeão do NBB |
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Pivô Giovannoni foi o melhor jogador da final em 2010/11
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Quatro
finais, em quatro edições do NBB é um histórico de respeito. Ter conquistado o
título nos últimos dois anos, gabarita ainda mais o time de Brasília para a
decisão deste ano. Ao contrário de São José, o time da capital federal não
tem feito uma temporada tão regular. Os resultados aparecem, é verdade, mas
dentro de quadra o time sofreu em alguns momentos para encontrar seu melhor
jogo. Classificado em terceiro lugar na temporada regular, Brasília cresceu na
disputa dos playoffs. Fez uma série consistente contra Bauru, e teve frieza
para bater o Pinheiros fora de casa em duas oportunidades, e conquistar a
classificação para mais uma final. Frieza, aliás, pode ser a vantagem da equipe
neste confronto. São José é um time de emoção, explosão, e terá a torcida a
favor. Com a experiência dos jogadores de Brasília, manter a “cabeça fria” é a
chance de equilibrar esse lado psicológico, para tentar impor o seu ritmo de
jogo em quadra.
A filosofia do técnico José Carlos Vidal é manter uma defesa forte. Nas estatísticas
gerais do campeonato essa característica do time de Brasília não transparece,
mas na quadra, é assim mesmo que funciona. Nos playoffs, porém, é o ataque que
tem feito a diferença. O time é o segundo que mais pontua nessa fase, com média
de 85,7 pontos por jogo, atrás apenas do São José. A eficiência nas bolas de 3
pontos é parte fundamental desse sucesso ofensivo, com um aproveitamento de
37,2%. E se numa decisão o que faz a diferença são os detalhes, a equipe
deve ficar atenta à quantidade de erros, principalmente nas saídas de bola em velocidade. Por partida, são 14,4
desperdício de bola.
Se de
um lado tem Fúlvio e Murilo, em Brasília tem um trio bicampeão que, inspirado,
sempre dá muito trabalho. Alex, Nezinho e Giovannoni são responsáveis por 49,5
pontos por jogo na fase de mata-matas, 57% do total da equipe. Individualmente,
o ala/armador, Alex, é o cara que pode desequilibrar. Se o jogo está difícil,
ele é o típico jogador que chama a jogada, marca o ponto, sofre a falta, e
ainda converte os lances-livres.
Campanha
Primeira fase: 21 vitórias e 7 derrotas (3º colocado)
Quartas de Final: 3 a 0 contra Bauru
Semifinal: 3 a 2 contra o Pinheiros
O fator torcida
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São José tem a maior média de público da temporada |
Não é à toa São José e Brasília fazem a final do NBB. Além
dos elencos fortes e consistentes ao longo da temporada, as duas torcidas foram
as que mais compareceram aos ginásios para apoiar o time do coração. Na fase de
classificação, o São José liderou a média de público, com 2.122,64 pessoas em
cada partida disputada em casa – lembrando que a arquibancada por lá é pequena,
e esse número representa praticamente a lotação total. Brasília levou uma média
de 1.726,29 torcedores.
A Liga Nacional de Basquete (LNB) não divulgou os números
dos playoffs, mas pelo que se pode observar, a média deve ter sido ainda mais
alta. No último confronto entre São José e Flamengo, no Vale do Paraíba,
durante as semifinais, a fila para o jogo que começaria às 18h00 começou a se
formar antes das 08h30.
Campo neutro?
Por ter a melhor campanha na primeira fase do NBB, São
José teve o direito de escolher o ginásio onde seria disputada a final. Diante
de uma lista que incluía espaços como o Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, os mandantes
pediram por Mogi. A cidade é próxima de São José, o que facilita a cinda da
torcida, mas tem também uma ligação “sentimental”.
A dupla de maior destaque da equipe joseense marcou o nome
da história do basquete de Mogi das Cruzes no passado. Jogando pelo
Corinthians/Mogi, Murilo e Fúlvio já mostravam talento, e disputaram partidas
eletrizantes que ficaram na memória do torcedor. Mais do que isso, Fúlvio criou
raízes na cidade. É casado com uma mogiana, e quase sempre aparece pela cidade
nos momentos de folga. A torcida da cidade, que já incentivou o São José contra
Limeira durante a final dos Jogos Abertos, disputados em Mogi das Cruzes, no
ano passado, engrossará o coro também na final do NBB.
Além dos jogadores, quem tem vínculo ainda mais forte com
a cidade é o técnico Régis Marrelli. Ele é nascido em Mogi, e poderá ganhar o
primeiro título do NBB de sua carreira em casa. Além de “cidadão” mogiano, Régis foi também
auxiliar técnico no basquete da cidade na mesma época em que Murilo e Fúlvio
jogavam por lá.
Alírio
O pivô Alírio, do Brasília, é o único que pode dividir a
atenção do público de Mogi das Cruzes. Ele foi da mesma geração do trio
joseense em Mogi e, por isso, é também será lembrado pelo torcedor.